Há uma raiva tão grande que Jim e eu voltamos
sentir. Estaremos loucos? Que fizeram de nós? É angustiante o sentimento que
nos une. Sabemos da nossa culpa embora gostássemos de ser inocentes. No fundo
aquele triste e duro momento também é nosso. E não há nada a fazer para evitar
o odioso cenário. É só esperar agora. Esperar até a guerra terminar. Estaremos
ambos um pouco mais velhos quando isso acontecer, é seguro e sabemos.
Shhhhhhhhhhhhhhh
o ténue sussurro das ervas
a voz vem de longe
lá dentro, esperando o seu
nascimento
numa sala fria, num osso de gavinha
O frenético cacarejo comunicativo e
aberto
das crianças numa sala de baile, da
família de amigos à volta de
uma mesa de banquete, cheia de
comida
riso de mulher suave e culpado
o bar, a sala dos homens
as pessoas reúnem-se para formar os
seus
exércitos & encontrar os seus
inimigos
& lutar
serão eles, qualquer um deles, o soldado
desconhecido. Os que emprenham pelos ouvidos dando razão ao que ouvem, deixando
que seja verdade unicamente aquilo que escutam. O treino acontece onde as
notícias das desgraças são lidas. A televisão alimenta os putos. Ninguém quer
saber de mais nada. É assim e assim será para sempre. A verdade está ali e
apenas lá, nem vale a pena pensar que se pode alterar o guião. Esta é
estranhamente uma sociedade de mortos-vivos, de gente que vive sem sequer ter
nascido, até ao momento em que a bala atinge uma qualquer cabeça mesmo sob o
capacete não deixando qualquer hipótese de voltar atrás e desfazer o que nunca
foi feito de verdade.
A busca Interminável um vigília
de torres de vigia e fortalezas
contra o mar e o tempo.
Ganharam? Talvez.
Ainda lá estão e no
silêncio das salas ainda deambulam
as almas dos mortos,
que mantêm a sua vigilância sobre os
vivos.
Cedo nos juntaremos a eles.
Cedo caminharemos
nas paredes do tempo. Nada
nos fará falta
excepto uns aos outros.
- Mas quem
somos nós?
- pergunto a Jim na expectativa de uma
resposta mais directa, ao que ele responde a gritar:
Os que Correm para a Morte
Os que esperam
Os que se preocupam
pois está tudo acabado, é a conclusão que tiro,
para eles, para nós, que somos o soldado desconhecido, mas que ainda não
sabemos.
Saúdem a Noite Americana
Eu conto-te
O lenço de seda foi
bordado na China ou no Japão
atrás da cortina de ferro. E
ninguém pode atravessar a fronteira
sem credenciais apropriadas.
Isto para dizer que somos todos
sensatos, ficamos ocasionalmente
tristes
& que se todos os sócios no
crime
incorporassem nos seus
programas promessas o baile
poderia acabar & a seguir
todos os nossos amigos.
Quem são os nossos amigos?
São tímidos & tristonhos? Têm
grandes desejos? Ou
pertencem à multidão que
caminha na dúvida do seus impossível
arrependimento? As coisas acontecem de facto
& ocorrem de novo em contínua
esperança;
Todos nós encontrámos um nicho
seguro onde podemos acumular
riqueza & falar com os nossos
colegas
na mesma premissa do desastre.
Mas isto não vai resultar. Não, isto
Nunca resultará.
Abra-se uma cova para o soldado desconhecido. Para
ti, Jim, e para mim. Amanhã pela manhã bem cedo sairemos nas notícias e
alimentaremos os putos, seremos o seu café da manhã. A televisão alimenta os
putos naquele momento em que alguém diz que uma bala nos atingiu na cabeça
mesmo sob o capacete. E nesse instante severo mas de alívio a guerra acabou,
Jim, a guerra acabou, acabou.
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário