segunda-feira, 30 de maio de 2016

fx. 10 – yes, the river knows


Sabes, Jim, eu já vi, ouvi e vivi tanta coisa sobre amor, sobre relacionamentos, sobre como eles deveriam ser e como eles são, sobre o que é certo, o que é errado. E no final das contas continuo sem saber. A verdade é que te sentes como se estivesses parado, no centro de um rio bem fundo, com apenas duas opções para escolher.



         Que fazeis aqui?

            Que quereis?

            É música?

            Podemos tocar música.

            Mas vós quereis mais.

            Quereis algo & alguém novo.



Escuta, podes continuar a nadar com um esforço quase sobrenatural, ir buscar fôlego lá bem ao fundo da alma para chegares até à outra margem e talvez, só talvez, encontres algo de bom para além de ganhares como prémio aquela sensação serena de missão cumprida.



O presente é abençoado

O resto

recordado



Mas ainda tens a segunda opção. Se o medo pelo desconhecido for muito grande podes simplesmente voltar, podes nadar todo o caminho de volta com a consciência a queimar por saberes que o esforço feito para chegar lá foi em vão. E analisando assim as coisas até parece fácil escolher, mas na verdade não acho que seja.



         Há um público para o nosso drama.

            Mágica máscara de sombra.

            Como o herói de um sonho, trabalha para nós,

                                    a nosso favor.



            A que distância está isto de uma cópia final?



            Caio. Doce treva.

            Estranho mundo que espera & observa.

            Velho pavor da não-existência.



            Se não é problema, porque mencioná-lo?

            Tudo o que se disse significa isso,

            o seu contrário & tudo o mais.

            Estou vivo. Estou a morrer.



Caso voltes, Jim, sabes exactamente o que vais encontrar. Sentimentos e situações que já conheces com a ponta dos dedos. Feridas cicatrizadas. Não te magoam mais. Já aprendeste a lidar com todas. Mas caso continues, se é que o cansaço te vai permitir chegar até à outra ponta do rio, não fazes ideia do que te espera. Não sabes se vais ser capaz de lidar com tudo, comigo, contigo, com os outros.



            Domínio dos lançamentos

            Dor no deserto

            Cruel ambiente na água

            doce peixe nadador o anzol sorri

            Eu amo-vos durante esse tempo

            mesmo c/ a criança

            pela mão

            & em apuros



            Estás a aprender

            depressa



            Afasta-te do passeio

            ouve as crianças no recreio

            Sol Cobra / Sorriso Febre

-          Nenhum homem me mata



«Quem é o louco mensageiro?»



Em tempos como estes necessitamos

à nossa volta de homens que possam

ver com clareza & dizer a verdade.



Sem respirar



            Testemunha em fúria



todos os pensamentos se misturam e te confundem, Jim. Se tu fosses criança e estivesses com aquela velha e colorida bóia a envolver-te a cintura sabes que não estarias com medo. Normalmente isso dava-te tempo para pensar. Agora não te podes dar a esse luxo.



            Porquê o desejo de morte?



            Um papel liso ou uma pura

                        parede branca. Uma linha

            falsa, um rabisco, um erro.

            Indelével. Tão obscuro

            ao acrescentarem-se milhões de outros

            traços, misturando-os,

            cobrindo-os por cima.



            Mas o esboço original

            fica, escrito em

            sangue dourado, brilhando.



            Desejo de uma Vida Perfeita



precisas de uma decisão imediata porque já nem tens bóia nenhuma. Neste momento a tua sorte é teres aprendido a nadar mas isso não te vai manter seguro por muito tempo.



         Estar bêbado é um bom disfarce.



            Bebo para

            poder falar aos idiotas.

            O que me inclui.



Droga, mais um segundo nessa indecisão e sabes que vais afundar.

                                                                                             (continua)

Sem comentários: