segunda-feira, 9 de maio de 2016

fx. 4 - summer's almost gone


O verão está quase no fim,



Um homem junta folhas num

monte no seu quintal, uma pilha

& apoia-se no ancinho &

queima-as todas.

A fragrância enche a floresta

as crianças param e sentem o

aroma, que se tornará

nostalgia em alguns anos



o verão está quase no fim, quase no fim,



         Uma sombra segue-nos

e sempre que paramos

caímos



é, está quase no fim,



-          Se pudesse de novo ver-vos

& falar convosco, & passear um

pouco na vossa companhia,

e beber a infusão estonteante

das vossas conversas,

pensei



onde estaremos quando o verão terminar? – interrogamo-nos.



         Há uma crença dos

Filhos do Homem que diz

Que tudo se comporá



A manhã encontrou-nos numa calma inconsciente. A manhã seguinte. Ou talvez as horas seguintes ao momento anterior. A minha dúvida era grande mas também não era nada que me importasse. De todo. No seguimento da alucinação anterior a manhã podia não ser manhã de verdade, mas que fosse, ou talvez o que vivemos antes não tivesse sido nada, ou fosse apenas um sonho. Intenso, isso foi. Estávamos, Jim e eu, extasiados. Pelo menos a entrega foi louca. Se reinava agora a calma, se fosse manhã, então valia a pena que fosse por contraste com o que tínhamos vivido por antagonismo ao que tínhamos passado. Estava tudo no seu lugar. No devido lugar. E sabia-nos bem assim. Nada na mente, apenas o sentimento de que estava tudo bem assim, não podia estar melhor. Depois de tanta emoção sentida era exactamente aquele o hiato desejado. Onde estávamos(?) pouco importava. Importa o que sentimos e o que se sente naquela manhã é nada ou quase nada. Uma calma inexcedível que sabe tão bem.



         Poucas vezes fomos tão lentos.

Poucas vezes estivemos tão longe.



E assim continuámos por algumas horas. Tantas que nem demos pela manhã acabar e dar lugar à tarde. E foi quando conseguimos abrir uma nesga dos nossos olhos que descobrimos o sol e como ele fazia arder as nossas cabeças. A tarde queimava ouro no nosso cabelo. Tudo e tanto para fazer com que se tornasse impossível a lucidez, pensar com sentido, ter a noção do que se passa à volta da vida que nos rodeia e do que ela quer de nós. Ou nós dela.



Estou cansado de pensar.



– ouço Jim a dizer e reparo que o disse sem abrir sequer os olhos com medo de ser ofuscado pelo brilho do sol,



Porque gira a minha mente à tua volta?

Porque se perguntam os planetas como

Seria estar na tua pele?



não lhe dei grande importância. Sabia-o bem naquele momento. Sabia-me bem aquele momento. Tê-lo assim tão calmo perto de mim. Não era normal. Era, pelo contrário, muito pouco natural. Jim não tinha por hábito oferecer tranquilidade à sua volta. Pois, naquele momento, eu sentia-a como ninguém. E por isso à noite, nós nadávamos no mar do riso, como se mais ninguém, mais nada existisse à face da terra. Só nós, a nossa lucidez e o que nos unia. – Quando o verão terminar onde estaremos? – perguntava-me de vez em quando. Ao que lhe respondia na mesma moeda a sorrir: - Onde estaremos? Onde estaremos? Quem quer saber? O verão está quase no fim.



         Oh, quero estar lá

Quero que estejamos lá

Junto ao lago

Por debaixo da lua

Fria & inchada



o verão está quase no fim.



Quando a escura noite da rádio existia

& assumia o controle, & curtíamos o rock na sua teia

consumidos pelos ruídos radiofónicos, & acariciados pelo medo

éramos arrastados de

um sono profundo & acordados

ao fim do dia por guardas aborrecidos

& mandados levar através da selva

húmida de orvalho ao súbito cume donde se avistava

O mar…



Uma longa praia radiante & uma lua fria

enfeitada de jóias. Casais nus

correm pelo lado sossegado &

nós rimo-nos como crianças loucas,

presumidos no confuso juízo de algodão

da infância.



Rodeiam-nos a música & as vozes.



Nós vivemos uns bons momentos mas agora acabou porque o inverno está a chegar. O verão está quase no fim.

                                                                                                         (continua)

Sem comentários: