O
verão está quase no fim,
Um
homem junta folhas num
monte
no seu quintal, uma pilha
&
apoia-se no ancinho &
queima-as
todas.
A
fragrância enche a floresta
as crianças param e sentem o
aroma, que se tornará
nostalgia em alguns anos
o verão está quase no fim, quase no fim,
Uma sombra segue-nos
e sempre que paramos
caímos
é, está quase no fim,
-
Se pudesse de
novo ver-vos
&
falar convosco, & passear um
pouco
na vossa companhia,
e
beber a infusão estonteante
das
vossas conversas,
pensei
onde
estaremos quando o verão terminar? – interrogamo-nos.
Há uma crença dos
Filhos do Homem que diz
Que tudo se comporá
A manhã encontrou-nos numa calma inconsciente. A
manhã seguinte. Ou talvez as horas seguintes ao momento anterior. A minha
dúvida era grande mas também não era nada que me importasse. De todo. No
seguimento da alucinação anterior a manhã podia não ser manhã de verdade, mas
que fosse, ou talvez o que vivemos antes não tivesse sido nada, ou fosse apenas
um sonho. Intenso, isso foi. Estávamos, Jim e eu, extasiados. Pelo menos a
entrega foi louca. Se reinava agora a calma, se fosse manhã, então valia a pena
que fosse por contraste com o que tínhamos vivido por antagonismo ao que
tínhamos passado. Estava tudo no seu lugar. No devido lugar. E sabia-nos bem
assim. Nada na mente, apenas o sentimento de que estava tudo bem assim, não
podia estar melhor. Depois de tanta emoção sentida era exactamente aquele o
hiato desejado. Onde estávamos(?)
pouco importava. Importa o que sentimos e o que se sente naquela manhã é nada
ou quase nada. Uma calma inexcedível que sabe tão bem.
Poucas vezes fomos tão lentos.
Poucas vezes estivemos tão longe.
E assim continuámos por algumas horas. Tantas que
nem demos pela manhã acabar e dar lugar à tarde. E foi quando conseguimos abrir
uma nesga dos nossos olhos que descobrimos o sol e como ele fazia arder as
nossas cabeças. A tarde queimava ouro no nosso cabelo. Tudo e tanto para fazer
com que se tornasse impossível a lucidez, pensar com sentido, ter a noção do
que se passa à volta da vida que nos rodeia e do que ela quer de nós. Ou nós
dela.
Estou cansado de pensar.
– ouço Jim a dizer e reparo que o disse sem abrir
sequer os olhos com medo de ser ofuscado pelo brilho do sol,
Porque gira a minha mente à tua volta?
Porque se perguntam os planetas como
Seria estar na tua pele?
não lhe dei grande importância. Sabia-o bem
naquele momento. Sabia-me bem aquele momento. Tê-lo assim tão calmo perto de
mim. Não era normal. Era, pelo contrário, muito pouco natural. Jim não tinha
por hábito oferecer tranquilidade à sua volta. Pois, naquele momento, eu
sentia-a como ninguém. E por isso à noite, nós nadávamos no mar do riso, como
se mais ninguém, mais nada existisse à face da terra. Só nós, a nossa lucidez e
o que nos unia. – Quando o verão terminar
onde estaremos? – perguntava-me de vez em quando. Ao que lhe respondia na
mesma moeda a sorrir: - Onde estaremos?
Onde estaremos? Quem quer saber? O verão está quase no fim.
Oh, quero estar lá
Quero que estejamos lá
Junto ao lago
Por debaixo da lua
Fria & inchada
o verão está quase no fim.
Quando a escura noite da rádio existia
& assumia o controle, & curtíamos o rock
na sua teia
consumidos pelos ruídos radiofónicos, &
acariciados pelo medo
éramos arrastados de
um sono profundo & acordados
ao fim do dia por guardas aborrecidos
& mandados levar através da selva
húmida de orvalho ao súbito cume donde se avistava
O mar…
Uma longa praia radiante & uma lua fria
enfeitada de jóias. Casais nus
correm pelo lado sossegado &
nós rimo-nos como crianças loucas,
presumidos no confuso juízo de algodão
da infância.
Rodeiam-nos a música & as vozes.
Nós vivemos uns bons momentos mas agora acabou
porque o inverno está a chegar. O verão está quase no fim.
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